Entre o riso e o verde: Os Irmãos Sukulonsky levam circo e sustentabilidade pelo DF

Cia CircomVida celebra 10 anos com turnê por dez pontos periféricos, unindo arte circense e educação ambiental

Eles chegam em um circo sobre rodas, transformando ruas e escolas em picadeiros improvisados, onde o riso se mistura à reflexão. À frente da Cia CircomVida, os artistas Marcella Romar e Valentin Etchevest apresentam os irreverentes Os Irmãos Sukulonsky, dupla que carrega nas malas malabares, poesia e sementes — literalmente.

Com o projeto Rua de Artistas, eles percorrem dez regiões periféricas do Distrito Federal levando espetáculos, oficinas e ações ambientais que terminam com o plantio de árvores do cerrado e distribuição de sementes. Em 2025, a companhia celebra dez anos de atividades, consolidando uma trajetória que une arte, acessibilidade e sustentabilidade.

Nesta entrevista, os artistas falam sobre a rotina na estrada, os bastidores do circo móvel e o poder transformador da arte como ferramenta de educação ambiental.

Vocês falam da linguagem circense como ferramenta de conscientização ambiental. Qual foi o maior desafio de unir arte e sustentabilidade?

O maior desafio foi encontrar o equilíbrio entre a leveza do riso e a profundidade do tema. A sustentabilidade é algo urgente, mas pode parecer distante das pessoas. E o circo nos permite aproximar esse assunto de forma sensível e divertida, despertando curiosidade e empatia. A gente quer que o público reflita, mas também se encante e saia do espetáculo com vontade de agir.

E qual a parte mais gratificante de ver isso acontecer nas comunidades?

É perceber que a mensagem realmente chega. Quando uma criança entende a importância de plantar uma árvore, ou quando um morador comenta que vai reutilizar algo em casa, sentimos que a arte cumpriu seu papel. É emocionante ver o brilho nos olhos das pessoas, o riso, o encantamento. Isso é o combustível da CircomVida.

O espetáculo percorre regiões periféricas do DF. Como vocês escolhem os locais?

A gente busca lugares onde existe uma energia comunitária muito forte. São escolas, instituições e espaços culturais que acolhem e se envolvem. Fazemos essa escolha junto com lideranças locais, para que o encontro seja verdadeiro e participativo.

Como é perceber a reação das crianças e moradores dessas áreas?

É uma troca muito bonita. As crianças se entregam, riem, participam e, muitas vezes, é a primeira vez que assistem a um espetáculo de circo. Os adultos também se emocionam, porque o conteúdo fala de pertencimento e cuidado com o planeta. Sentimos que o público se reconhece ali.

Vocês plantam árvores nativas e distribuem sementes como ação concreta. Como avaliam o impacto disso a longo prazo?

O plantio é simbólico e real ao mesmo tempo. Cada muda e cada semente representam um compromisso com o futuro. A longo prazo, esperamos que essas ações despertem o senso de continuidade, de que o cuidado com o meio ambiente é diário e coletivo. E quando voltamos a alguns lugares e vemos as árvores crescendo, é uma alegria enorme.

Qual recado gostariam de deixar para as crianças que participam?

Que elas nunca percam o encantamento e a responsabilidade de cuidar do mundo. Que entendam que pequenas atitudes, como plantar, reciclar ou economizar água, fazem uma diferença gigante. E que a arte pode ser uma aliada nessa transformação.

Usam materiais e estruturas sustentáveis no circo móvel.  Que ajustes precisaram fazer para garantir isso?

Foi um processo de aprendizado e reinvenção. Investimos em energia limpa com a instalação de três painéis solares no nosso micro-ônibus, tornando o circo móvel mais autossuficiente e alinhado aos valores de sustentabilidade que levamos para o público. Também reaproveitamos materiais, adaptamos cenários e reduzimos o uso de plástico. Tudo isso exige planejamento, mas é gratificante ver o projeto se manter fiel aos valores que defendemos.

O que ainda gostariam de inovar nas próximas edições?

Sonhamos com a criação de um viveiro próprio de mudas do cerrado.

A acessibilidade é mencionada como elemento importante no projeto. Como se planeja isso nas apresentações e na mídia?

A acessibilidade está presente desde o início, no conteúdo e na equipe. Trabalhamos com consultores, cuidamos da tradução em Libras e buscamos tornar a comunicação visual e sonora mais inclusiva. A ideia é que todos possam viver a experiência da Cia CircomVida, sem barreiras.

Qual resultado já viram ou esperam ver com os recursos de acessibilidade?

Tem sido transformador. Ver o público surdo interagir com o espetáculo, rir, se emocionar. Isso mostra que a arte é realmente para todos. Esperamos inspirar outros projetos a olharem para a acessibilidade não como um extra, mas como parte essencial do fazer artístico.

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