Moradores e entidades preparam Ato Cultural gratuito nos dias 29 e 30 de novembro, em prol da preservação do espaço no Plano Piloto
Brasília, 26 de novembro de 2024 – A Vila Cultural Cobra Coral, futuro patrimônio cultural imaterial do Plano Piloto de Brasília, enfrenta a ameaça de remoção de mais de 100 famílias pelo Governo do Distrito Federal (GDF). Reconhecida em 2024 pelo Plano Diretor de Preservação do Conjunto Urbanístico de Brasília (PPCUB), a vila preserva importantes tradições culturais da cidade. Contudo, uma decisão do GDF, a partir de ações provocadas pela Promotoria de Defesa do Meio Ambiente (Prodema), pretende desocupar a área, gerando grande incerteza entre os moradores.
Com raízes históricas que remontam à construção de Brasília, a Vila serviu de pouso para os candangos vindos de todos os cantos do país. Na década de 1970, a vila consolidou-se como um centro cultural, palco de expressões populares que preservam e promovem tradições brasileiras e cerratenses, abrigando iniciativas como o Terreiro Pai Joaquim de Aruanda, o grupo Seu Estrelo e o Fuá do Terreiro, além do Espaço Inventado, do Projeto Waldir Azevedo e da Casa da Árvore.
Ao longo das décadas, a comunidade resistiu ao avanço urbano de Brasília, destacando-se como uma das poucas áreas que preservaram uma ocupação popular e socioambiental, ao lado de vilas como Telebrasília, Planalto e Candangolândia.
Ameaça de desocupação
Segundo os moradores, visitas de agentes públicos foram realizadas em setembro e outubro deste ano, sem que fosse dada clareza sobre os motivos exatos da desocupação. “A falta de transparência é alarmante. O governo alega que nós moramos dentro da poligonal do Parque Asa Sul, sendo que o parque foi criado décadas depois de estarmos morando aqui, sem qualquer diálogo conosco", ressaltou o morador Sérgio Murilo Araújo Silva, que reside na vila há mais de 30 anos.
Em 2024, a Vila Cultural Cobra Coral foi incluída no Plano Diretor de Preservação do Conjunto Urbanístico de Brasília (PPCUB) como área de estudo para valorização enquanto patrimônio cultural imaterial do DF, conforme regulamentado pela Lei Complementar 1.041/2024. Apesar disso, as ações do GDF contradizem a legislação vigente.
A comunidade tem recebido apoio de parlamentares do Distrito Federal, que reconhecem a importância do espaço, como os deputados distritais Chico Vigilante, Gabriel Magno, Max Maciel, Fábio Felix e a deputada federal Érika Kokay. Além de artistas, produtores culturais, ambientalistas, arquitetos e urbanistas.
“Esta comunidade é única. Não apenas abriga uma população diversificada, mas também representa um patrimônio vivo, onde várias manifestações culturais, espirituais e artísticas coexistem, enriquecendo a identidade cultural do DF. A importância da vila vai além da mera ocupação; ela se traduz em uma rede de apoio e integração que fortalece o tecido social de Brasília”, destacou o parlamentar Gabriel Magno.
Ato pela resistência
Para fortalecer a luta, moradores e o Comitê de Defesa da Vila Cultural Cobra Coral convidam todos a assinarem o abaixo-assinado em apoio à permanência da comunidade: https://peticaopublica.com.br/pview.aspx?pi=SALVEVILACULTURA . Além disso, nos dias 29 e 30 de novembro, a população local e entidades culturais promoverão um Ato Cultural com atividades gratuitas, como atrações musicais, grafite e atividades ambientais, abertas ao público. A agenda completa pode ser acessada no perfil oficial da Vila Cobra Coral no Instagram: @vila.cultural813sul (https://www.instagram.com/vila.cultural813sul/)
Preservação ambiental
Parte da Vila Cultural Cobra Coral hoje é considerada área do Parque Asa Sul, criado em 2003, instalado em 2010 e reclassificado como Parque Ecológico em 2019. Antes da criação do parque, a vila já existia há décadas. A comunidade, no entanto, foi deliberadamente excluída dos diálogos de elaboração do Plano de Manejo do parque, aprovado em 2018, que identificou impactos ambientais na área, resultantes de intervenções externas à comunidade.
A Defensoria Pública do Distrito Federal, por meio do Núcleo de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos, também acompanha o caso. “Defendemos a busca por soluções conciliatórias antes do processo de desocupação da área, considerando a presença de famílias em situação de vulnerabilidade social que já residiam na área antes da implantação da unidade de conservação", declarou a instituição em nota.
Apesar dos desafios, a comunidade promove sustentabilidade com coleta seletiva e revitalização de áreas verdes, em parceria com a Universidade de Brasília (UnB) e sociedade civil, destacando-se como ocupação sustentável, de inclusão social e cultural no contexto urbano.
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